sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sonho

Hoje sonhei... sonhei uma casa singela, de madeira, escondida do mundo por um bosque. Longe mas abrigando tudo o que realmente preciso...

A Espera

Nestes dias de calor, que em vez de cansarem me enchem a alma, aprendi uma ânsia contraditoriamente serena, aprendi a espera, tão digna, bela e importante.
Na espera sorria, vivo e quero...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Abstracção

Sentei-me numa mesa solitária no café do costume. Sinto-me protegido por estes rituais mundanos, insignificantes. Protegido do mundo, protegido de mim...
Ideias começam a fluir pela minha mente, pensamento após pensamento, degenerando numa torrente imparável.
Tornei-me tão obcecado pelo sentido da minha existência, que deixei de existir. Tão obcecado pelo sentido das minhas acções que deixei de agir, e tão obcecado pelo sentido das escolhas que deixei de escolher.
Tornei-me uma abstracção, uma construção mental. Um conjunto de nadas, isentos de sentido. A ironia é divinal. Sorrio, um sorriso nervoso, perplexo, irreal... Sou isto...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Confissões... confusões...

Esta noite o passado remói dentro de mim. Recordo bem demais as vezes em que escolhi perder para que outros tivessem hipótese de ganhar. Não é em arrependimento que recordo, nem sequer é com mágoa, é apenas na incerteza de ter sido a melhor escolha. Fiquei sem saber se ganharam, sei no entanto que perdi... Confundi a incerteza de saber ser, com a certeza do não ser...
Fui-me definindo pelas renúncias mais do que pelo que em mim aceitei e é isso na verdade que lamento... Fundamentalmente arrependo-me de muito do que escolhi não fazer, mais do que das coisas que fiz. Acima de tudo confesso perante mim mesmo, a ruptura da incerteza, a quebra de vontade, o incontrolado medo, a infinita indecisão. Fugi sempre de mim, e de quem me via melhor do que eu próprio...

Necessito de aceitar tudo isto, de me perdoar sem esquecer o que por duvidar fiz a mim próprio...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Chauvinismos

Interrogo-me sobre qual a real motivação que nos leva a um chauvinismo quase generalizado. Teremos forçosamente de achar que o nosso grupo é superior a outros? No âmbito social, cultural, religioso, político, clubístico, etc... A lista seria quase interminável.
Será que a tendência para reparar nas diferenças, que afinal até são reduzidas quando comparadas com as semelhanças, é assim tão forte?
Haverá uma sede de superioridade assim tão marcante? Para quê? Afirmação?
Fico perplexo e não consigo encontrar em mim um entendimento desta realidade.
Entristece-me profundamente a aparente incapacidade que temos enquanto espécie de compreender que as semelhanças entre seres humanos serão sempre mais importantes que as diferenças...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Divisão

Que doença temos para pensar que somos isolados?
Vivemos na ilusão, demolidora de sonhos, de sermos únicos. Não compreendemos enquanto espécie que nem biologicamente nem espiritualmente existem fronteiras. Nem mesmo com as fotografias tiradas do espaço que revelam a terra na sua beleza simplesmente fantástica, unificada num véu azul, luminoso, na vastidão do quase nada, nos convencem de que somos um só povo... Continuamente guerreamos, lutamos, gritamos para estarmos acima dos demais... Achamo-nos divididos, de espírito quebrado, e tornamo-nos assim pequenos, insignificantes.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"O inferno são os outros"

Isolamentos artificiais que se repetem sem fim pela existência humana. Não têm campo da acção fixo. Apresentam-se mascarados de amor, trabalho ou moral. São barreiras que permitimos erguer por vontades alheias. São fundamentalmente ferramentas de controlo e subjugação. Deslocam-nos a percepção para outro lugar, longe de nós próprios Enfraquecem, consomem e destroem...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A caminhada

É cedo demais e eu estou ainda tão longe... As caminhadas que enfrento parecem-me intermináveis Sem entender porquê, coloco um pé em frente ao outro com uma determinação tão oscilante como as marés. Talvez no fundo a Lua também me ordene lá do seu trono alto.
Continuo a caminhar, cansado, mas sempre. Paro de onde a onde na tentativa de encontrar referencias, de me situar, numa tentativa de orientação tantas vezes falhada. Mas continuo mesmo sabendo que partirei sem nunca chegar...

Sol

É nestes dias cansados de si mesmos que mais agradeço a presença do Sol. Sinto-me grato pelo calor doado à flor da minha pele. Grato pelos cheiros repletos de luz. As ruas normalmente acinzentadas ganham o colorido de renovadas melodias e eu olho, toco, e ouço tudo isto. Até hoje não sei se realmente tudo muda com o calor do Sol, ou se sou eu que me transmuto. Sinto diferente, diluindo numa relatividade absurda tudo ao que neste momento me sinto alheio.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Dúvidas parte I

Na desconstrução momentânea da vida, provoco a sua divisão atómica, em busca da energia essencial contida em todas as sub-particulas que a compõem Num acto de raciocínio protegido tenuemente pelas muralhas do castelo de cartas silogístico que é a lógica, procuro à distância de um sopro acariciar a chama infernal da dúvida. Tento chamar a mim sabedorias ancestrais e vindouras de tantos outros que tiveram e terão dúvidas semelhantes, numa tentativa de me manter à tona, navegando as questões colocadas por uma inteligência dúbia, a qual nem sei ser minha.
Pergunto-me obsessivamente ao que venho, quais os motivos indeterminados que me propulsionam, sem obter nunca uma resposta que me satisfaça a sede, que além de sede de saber, é também sede do procurar... ambas insaciavelmente consumidoras...

Dúvidas parte II

No canto mudo dos versos trocados, as dúvidas, recolho a tentativa, sempre infrutífera do perceber. Perturbam-me os que disfarçam de aleatoriedade o desentendimento e esconda sob sapiências dogmáticas a sua incapacidade de questionar. Vejo o Homem como um mutante na sua razão, como "questionante". A eterna dúvida e a procura da inalcançável verdade é o que melhor nos define como humanos, sendo a ausência destas a certeza do erro e da falha. Sob a capa da infindável ignorância humana como podem existir verdades?

Sensação de entendimento

Não tenho olhado o céu, que me olha sempre que saio dos esconderijos levemente escurecidos, blindados por paredes que já bem conheço. Desculpo-me com o cansaço e futilidades, servem de desculpa também para não olhar a relva verdejante crescendo teimosamente sob um sol que tanto quer a quer alimentar como secar, não tenho olhado os sorrisos, uns amarelamente nervosos, outros plenos de verdade. Mas de tempos a tempos paro e escuto. Escuto os sons transportados pelo ar, como aromas distantes, viajando léguas de desconcerto por entre todas as coisas que compõem o mundo que tento compor numa sinfonia harmoniosa dentro de mim. Falho muitas vezes, sentindo em mim uma cacofonia sem sentido, alheia a tudo, imperatriz de um universo sem dó, sem perdão. Mas nem sempre. Em raros momentos tudo se encaixa com um acto de paciência e amor milenares, e eu sou um. Sou um com os sorrisos, com as estrelas, até com a relva verdejante, cagada por cães sem dono que vagueiam distraídos e julgo enganado por minha ilusão desmedida entender...