sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Ser, o Querer e o Parecer

Preocupamo-nos muitas vezes mais com o querer parecer do que com o querer ser. Queremos parecer elegantes, sofisticados, porreiros, acessíveis mas talvez não saibamos se o queremos realmente ser. Querer ser, e especialmente ser mesmo acarreta custos que muitas vezes não desejamos pagar.
Quantas vezes tentamos parecer responsáveis quando realmente o que desejamos é um lugar ao sol, sem preocupações? Isso é responsabilidade?
Na minha óptica esta dicotomia é causadora de disrupção da personalidade. Ficamos perdidos entre duas ou mais formas de ver a vida e o mundo. É-nos incutida desde a nascença esta noção, esta necessidade de usar uma máscara, algumas vezes mais do que uma, ora em alternância ora sobrepostas. Crescemos sem saber, ou sequer de nos importarmos com quem somos.
Penso que este factor contribui de forma importante para a crise de valores de que tanto se fala.
Mesmo nos casos minoritários em que existe a percepção desta realidade, torna-se extremamente difícil contrariar a corrente imposta. São demasiados anos de programação cerebral para contrariar, agravados pela resistência da sociedade a pessoas mais verdadeiras. São premiados socialmente os que mais sucesso têm em esconder dos outros quem são. Basta reparar nas questões levantadas quando por exemplo um político é "apanhado" numa relação extra-conjugal. Em termos concretos de capacidade de governação que importa se o homem ou a mulher têm uma relação extra-conjugal? Porque é que quase forçosamente isso implica uma queda de popularidade, ou mesmo a demissão do dito político de seu cargo?
Seja por que meios for, a sociedade premeia os mentirosos, aqueles que usam máscaras, mas só no caso de serem bem sucedidos a fazê-lo.
O Ser Humano, como ser adaptável que é, adopta estas tácticas de "sobrevivência". Uns com mais outros com menos sucesso.
A meu ver este parecer é mais do que inútil... é em si próprio cancerígeno. Corrói, destrói e espalha-se por todo o tecido social, matando a identidade das pessoas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Gatos

Gosto de gatos. Gosto deles porque são normalmente egoístas. Digo normalmente porque já conheci excepções. A Aninhas (gata Birmanês Chocolate) que viveu 19 anos e 11 meses, tinha o hábito de querer ser mãe de todos nós cá em casa. :)
Quando os chamo de egoístas não me refiro a um egoísmo fútil. Os gatos procuram os seus parceiros humanos (sim, porque quem tem gatos em casa sabe que a relação destes com os humanos é tudo menos de submissão) porque querem, porque lhes dá prazer estar perto de nós, fundamentalmente porque gostam. É por isso para mim muito gratificante tê-los por perto. Sei que a minha companhia ou mimos são apreciados, não existe qualquer dúvida disso. Quando um gato procura o carinho de um humano é porque gosta do carinho desse humano. Sinto que eles nos olham como iguais. Sabem que somos diferentes, mas ao mesmo tempo iguais. Tentam conquistar direitos, regalias e privilégios e fugir dos deveres. Vivem comigo oito gatos. Por ordem alfabética: O Bolas, a Ísis, a Mingáu, a Misa (Artemisa), a Nheca (Boneca), o Pico, o Riscas e a Tátes (Tate-bitates). Não pensem que não gosto de cães. Simplesmente os acho diferentes, e simplesmente me relaciono tão bem com estes. Com estes oito gatos vive também uma cadela (a Tufa), e outros animais (uma tartaruga, três canários e uma porquinha da Índia). Todos se relacionam bem, tirando uma ou outra rivalidade pontual (até entre humanos as há, e somos todos da mesma espécie eheh).
Quanto aos gatos, penso que eles são mais adaptáveis do que domesticáveis. A componente selvagem é nestes animais muito forte, mas ao mesmo tempo são altamente adaptáveis, e dotados de uma inteligência muito prática. Aprendem sozinhos a abrir portas e janelas (inclusive janelas de correr desde que não estejam trancadas). Tentam (muitas vezes com sucesso) comunicar-nos as suas necessidades. Recordo-me da Ísis que adora aquecedores e lareira, ir para perto de um aquecedor a óleo que tenho no quarto, e olhar para o aquecedor e depois para mim e "Miau!" como quem diz "Já ligavas isto não?". Parece um raciocínio simples, mas ela sabe que o aquecedor precisa de uma acção minha para ficar quente. O Pico adora receber os membros humanos da família. Então é normal ele esperar à porta pelo primeiro que chegue, acompanha-o até dentro de casa, e assim que pode sai pelas traseiras, dá a volta à casa e espera pelo próximo membro da família.
É minha convicção de que quem não gosta de gatos, ou não os conhece realmente, ou então não é boa pessoa. Que me perdoem os que me lerem e não gostarem de gatos, mas podem sempre achar-se incluídos no primeiro grupo :)
Quanto às histórias de gatos que atacam sem motivo, a crença de que são falsos, etc, considero que são infundamentados. Tenho gatos em casa desde que sou gente, nunca observei tais atitudes nestes felinos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Propósitos quânticos...

Interrogo-me bastante sobre o que pensam os outros. Se colocam perante si mesmos e o mundo as mesmas questões que eu coloco. Se ponderam qual o propósito de tudo isto, o porquê de nos erguermos da cama dia após dia, porque lutamos, porque fazemos...
Não julgo que seja assim tão raro as pessoas reflectirem sobre estas coisas, mas a ideia que tenho é que nem toda a gente se interroga. É justamente isso que me intriga, como é possível passar pela Vida sem questionar o que é a Vida?
Ainda não "decidi" se penso que a vida é uma virtualização dos processos internos, se o que importa é o que vivemos dentro de nós, ou se o externo é o importante e o que se passa dentro do ser humano é um reflexo disso. Talvez seja ambas as coisas ao mesmo tempo, talvez o ser humano tenha uma natureza quântica afinal. Talvez estejamos vivos e mortos ao mesmo tempo, talvez sejamos deuses e escravos em simultâneo. É uma ideia interessante :)
Se pensar bem, reparo que gosto e desgosto ao mesmo tempo, quero e não quero, sou e não sou. Mas a questão continua... porquê tudo isto? Qual o propósito? Existe propósito? Para mim a natureza do "propósito" é também quântica, na medida que é e não é, existe e não existe.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Mudanças...

As pessoas por norma detestam mudança. Vejo isso nos outros e vejo em mim.
Há uma resistência enorme, mesmo quando essa mudança resolveria problemas. É muitas vezes mais fácil queixar-se do que está mal, mas sem querer realmente mudar. Fazer ondas é mau. Seremos como os mosquitos? que adoram água estagnada? bem os seres humanos sugam-se uns aos outros... mas isso é outra história... :)
Quantas vezes não nos queixamos de algo, apenas para receber compreensão, desabafar. O desabafo funciona como válvula de escape, permitindo que as situações perdurem. Provavelmente estou a projectar no resto da Humanidade, coisas que sou, mas não me parece... Acho que todos temos um pouco de mosquito, e todos gostamos do nosso cantinho confortável mesmo que ele não seja assim tão confortável.
Mudar qualquer coisa acarreta (sempre) riscos. Que sei eu dos efeitos que uma determinada alteração na minha vida provocará a curto, médio ou longo prazo? Posso fazer previsões, tentar adivinhar, calcular, mas a vida já me mostrou tantas vezes o quanto sou falível nessa actividade de auto-oráculo.
É mais fácil ficar quieto e ir deixando sair a pressão em pequenas "bufadelas", em pequenos protestos ou queixumes... (que afinal acaba por ser uma das funções deste blog)
Por norma as pessoas só mudam quando a poçazinha de agua estagnada corre o risco de desaparecer ou no caso mais comum quando ela já desapareceu e são forçadas a procurar outra poçazinha com poucas ondas...
Muitas vezes olha-se para o rio que corre, chamado vida, com vontade de nos deixarmos ir, mas a segurança daquela aguinha estagnada é difícil de vencer...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Percepções

A forma curiosa como as partes mais profundas da nossa mente distorcem a nossa percepção das coisas intriga-me e inspira mais uma mensagem neste blog.
Tantas vezes ouvi criticas onde não as havia, apenas porque sabia que podia ter feito melhor. Quantas vezes não ouvi frases dando-lhes um sentido completamente diferente do que era o intento de quem mas dizia. Cheguei a aperceber-me de memórias que tinham sido alteradas pela minha percepção pessoal do assunto.
Penso que umas vezes ouvimos aquilo que queremos, outras aquilo que tememos, e poucas vezes o que nos dizem realmente. A ambiguidade da linguagem humana também não ajuda. A mesma frase pode ter vários sentidos, e a nossa mente faz o resto...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Existir

Enquanto caminhava, reflectia sobre a necessidade que tenho de justificar a minha existencia. Há uma urgência de ocupação constante, pelo menos enquanto há outros seres humanos perto de mim. Talvez Sartre tivesse razão quando escreveu que "o Inferno são os outros". Parece-me que não me basta existir, preciso que sintam que eu tenho um propósito. A minha inutilidade aos olhos dos outros é-me insuportável. Tenho ideia que esta sensação se tornou mais intensa à medida que me fui tornando mais consciente dos outros. Há uma certa paranoia associada a este sentir. Uma boa doze de falta de auto-estima também. Porque será que me custa tanto existir por mim?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Carta a mim próprio

Sinto-me cansado. Cansado de sobreviver, cansado de querer, cansado de ser. Tolhido por pensamentos que não param, ideias aos milhares, inconcretizadas... Sinto-me vazio, oco, e a cada fôlego que poluo com o fumo do cigarro esvai-se na esperança de me preencher. Como se pensasse que o fumo me pudesse encher, sabendo que é impossível. As pessoas com quem falo, têm todas uma opinião. Devia deixar-me de tretas, viver a vida dizem umas. Outras falam-me em assumir responsabilidades. Sei no entanto que os concelhos que damos aos outros não são mais do que coisas que achamos que deveríamos ter feito num ou outro ponto da nossa própria vida. Estou só nas minhas decisões, tal como estamos todos. A isso se chama liberdade de escolha... Cada um tem que decidir por si, escolher, ganhar e perder... são as leis da vida.
Vi num filme, que falava de sonhos, uma frase mais ou menos assim. "As vezes somos como astros, em que tudo gravita em nosso redor, mas por vezes quando isso falha, a alternativa é escolher algo bom e gravitar em torno desse algo". Em certa altura de minha vida, fui como um astro (pelo menos do meu ponto de vista) em que muito gravitava em torno de mim. Correu mal... o problema é que me tornei um cometa errante, perdido no espaço, passando apenas de tempos a tempos perto do Sol, sentindo apenas calor nesses momentos... A cada correcção que faço da minha orbita, apercebo-me que apenas mudo ligeiramente o angulo, e que não consigo descrever uma trajectória circular, centrada... Talvez nem tenha vontade disso... Um cometa vê muito mais, têm uma multitude de prespectivas, e percorre muito mais distancias que um planeta... quase sai fora do sistema solar e retorna, ciclicamente... Talvez a principal diferença entre mim e um cometa seja a minha falta de regularidade, mas também sinto o tempo como não linear, os dias não demoram todos o mesmo tempo...
Sinto-me cansado de tudo isto, e no entanto amo a vida. Sinto-me desesperado, no entanto tenho esperança. Sinto-me frio, mas sou capaz de irradiar calor em todas as direcções. Estas contradições constantes, perturbam-me, fazem-me tropeçar, e não saber bem que direcção tomar...
Temo ilógicamente tanta coisa, mas penso que o que temo mais sou eu mesmo. Temo falhar e por isso não tento. Não sei como viver, no entanto vou sobrevivendo, um dia de cada vez, sempre preocupado com o futuro, com o que sentem os que me rodeiam, deixando-me algumas vezes para ultimo plano. É então que me dá ataques de egoismo, centrando tudo em mim, e fico irado por o mundo não ser como eu quero... Que direito tenho eu de protestar? Que faço eu para mudar tudo isto? Nada... Penso... sinto... mas não faço nada...
Mais um cigarro... o som do isqueiro é já tão familiar... o queimar da primeira golfada de fumo... que reconfortante que é... estes sim são todos iguais, sem surpresas... sabem todos ao mesmo... à morte lenta... ao gastar do folêgo que jamais se vai recompor...
Pergunto-me até quando vou continuar a vaguear pelos espaços, pelos vazios...
A resposta é simples mas vaga... "Não sei..."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Medo...

Sinto a humanidade sufocada pelo medo... o medo que originalmente era um instrumento de sobrevivencia tornou-se uma prisão.
Existem medos privados e colectivos, ambos dominam as nossas vidas.
Uns temem ficar sós, outros temem a pobresa, outros temem os outros...
Alguns temem o terrorismo, outros a guerra e alguns até a paz e o amor.
Vivemos consumidos por nossos medos. vivemos para eles e por eles. Por eles elegemos os que nos governam, por escolhemos ou não com quem partilhamos a nossa vida...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Universo Conhecido

Vivemos num universo do qual quase nada sabemos. A existência da humanidade resume-se a um fotograma cósmico (a idade estimada do universo pelos cientistas é de 14 biliões de anos). Nesse fotograma capturamos diversas estruturas em diversos estados da sua evolução (ou suposta evolução). Desses (poucos) dados foram inferidos todos os conhecimentos que temos actualmente do universo.
Mas o universo é aos olhos humanos um local muito misterioso...
Na verdade a idade que se estima para o universo não é uma certeza, assim como o diâmetro aproximado do que é chamado de "universo visível" que será na ordem dos 14 biliões de parsecs (medida de distancia astronómica) ou 46 biliões de anos luz o que equivale a aproximadamente 5 000 000 000 000 000 000 000 (vinte e um zeros!!!) kms.
Segundo o que se pensa as estrelas correspondem a 0,4% da matéria existente no universo e 3,6% será o gás intergalático (nuvens de gás que ocupam o espaço entre as galáxias), 23% de "matéria negra" que é matéria que não irradia luz nem é iluminada por outras fontes de luz, e 73% será um elemento ainda mais exótico chamado de "energia negra" também por não ser detectável. Isto são todos valores teóricos que podem estar longe da realidade. Na verdade existem várias teorias para explicar a tal energia e matéria negras mas nenhuma é aceite com consenso.

Afinal que será que sabemos do sitio onde vivemos?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Névoas

Era noite.. e as nuvens tinham descido à terra
tinham-se juntado aos mortais naquela praia
misticamente absorviam tudo!
até a luz do régio farol...

absorviam meus pensamentos, meus gritos mudos...
absorviam sons e imagens já gastas, sem vida
a névoa reinava naquela praia, na noite fria...
trouxe consigo o arrepio, e nada mais que esquecimento...
e a névoa penetrava tudo! até os recantos da minha alma
já não via o meu passado, nem o meu futuro...
era eu apenas que ali estava, sem lembranças ou esperanças
sem nada para sentir, querer ou amar, limitei-me a ouvir, a olhar...
observei o som das ondas, o ritmo das vagas,
certas como um relógio cósmico, ressoavam em minha cabeça...

o seu som cavo ecoava em meu coração vazio...
as aguas aproximaram-se de mim, de mansinho, mansinho...
como que para me apanharem desprevenido, me agarrarem!
Fugi! fugi para a segurança da civilização selvática!
lá estava a salvo! embrenhado na solidão da névoa da multidão...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

(sem título)

Troveja lá fora, fora de mim
E sinto o ribombar no meu corpo…
Soltam-se em mim dores,
e das nuvens enraivecidas fúrias…
Nuvens que escondem sentimentos

Nevoeiro humano, aquela miragem
que esconde a pessoa, o ser.
A máscara que teima em ficar
Em rosto humano que já sem saber o que é,
Esconde, ilude e faz crer…

Quando se crê que mudou,
Mudou apenas a pintura...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Quem

Quem sou eu?!, pergunto ao vento
num soletrado lento e errante,
entre gritos e risos desaforados
de meus demónios oscilantes.

Nada... nada...
Areia nos olhos... lágrimas a fugirem
entre palpebras semi-cerradas...

E ruge ruge o vento em meus ouvidos,
teimando em não fazer sentido.
E teimando eu também pergunto...
Quem sou eu?! Quem sou eu?!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O luxo de ter um automóvel próprio...

Os nossos políticos querem convencer-nos a usar os transportes públicos, sendo vulgar ouvirmos dizer que ter um carro é luxo...
Se analisarmos com cuidado estas afirmações torna-se obvio que se devem referir a Lisboa e Porto. Qualquer cidadão português residente num qualquer outro ponto do país só pode rir (ou chorar) perante tais afirmações.
Moro numa cidade (Aveiro) em que os transportes públicos são deficientes. Circulam autocarros de hora a hora, o acesso a alguns pontos do distrito é feito em automotoras sedentas de gasóleo (e todos sabemos que está caro) largando atrás de si uma nuvem de fumo negro. Circulam muitas vezes vazias e a velocidades baixas. O preço por viagem dos autocarros assemelha-se ao gasto com a gasolina no transporte privado (no caso de apenas viajar nele o próprio condutor, porque se forem mais passageiros fica mais económico mesmo contando com o parqueamento), mas com horários no mínimo inconvenientes.
Se pretendermos deslocar-nos a uma cidade próxima por exemplo Coimbra, de novo os comboios são de hora em hora. O custo no mínimo (indo de comboio regional) é de 4,90€. Um automóvel normal, faz a mesma viagem com 10€ de combustível, na pior das hipóteses. Sendo assim desde que nele viagem duas ou mais pessoas já compensa. O tempo da viagem circulando por estrada nacional para evitar o custo da portagem é equivalente e no caso de mais de duas pessoas fica mais económico.
Nesta óptica o luxo são os transportes públicos!
Quanto ao preço dos combustíveis, até me causa arrepios... principalmente sabendo que o preço do petróleo é indexado ao dolar que está cada vez mais baixo em relação ao euro... 110 dólares são hoje menos (em euros) que os 70 ou 80 de à uns anos. No entanto os combustíveis não param de subir... Terá algo a ver com a liberalização do preço dos mesmo que aconteceu no nosso país à uns anos com o argumento de que isso faria baixar esse mesmo preço?

Começo a pensar que o verdadeiro luxo é ser português!

Mas não se preocupem! Os nossos dirigentes continuam optimistas! (eu é que não...)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Cego, surdo e mudo...

Acordou com um raio de luz que escapava por entre os buracos do estore que não estava totalmente fechado a incidir-lhe no rosto.
Algo não estava bem... o silêncio era demasiado, era perturbador...
Levantou-se e dirigiu-se como de costume à casa de banho. Meio ensonado pegou na escova dos dentes tão familiar. Era normalmente o primeiro objecto em que pegava se não contasse com o botão que silenciava o despertador. Nesse momento ocorreu-lhe que não tinha acordado com o despertador, e pensou que estaria atrasado. Colocou o dentífrico como de costume da direita para a esquerda, suavemente, e voltou a colocar a tampa no tubo.
No instante em que aproximou a escova da boca, reparou que não a podia abrir. Em pânico tentou abrir de novo a boca, e apercebeu-se que seus lábios não existiam. Esfregou bem os olhos, para se assegurar de que não era uma alucinação... Não havia qualquer orifício nessa zona apesar de conseguir ver o maxilar a mexer. Era como se seus lábios tivessem sido soldados na perfeição um ao outro. Não havia sequer sinal que tivessem alguma vez existido, nem sequer uma leve marca ou cicatriz. Como era possível tal coisa?!
Ao observar melhor, reparou que também as suas orelhas tinham desaparecido. Procurou, procurou, e também não havia sinal de algum dia terem existido. O lugar onde antes tinham estado era agora perfeitamente liso, sem qualquer orifício por onde o som pudesse entrar. Um acesso terrível de pânico tomou conta dele... tentou acalmar-se, de início sem qualquer sucesso...
Voltou para o quarto, sentando-se do lado esquerdo da sua cama, observando os raios de luz que entravam pelo estore, agora com um ângulo diferente. O silencio continuava esmagador. Notou o quarto mais escuro, o que era estranho... Lentamente começou a aperceber-se que a escuridão começava a tomar conta dele, a envolve-lo friamente e sem piedade. Em poucos minutos deixou de ver o que quer que fosse além de uma escuridão pouco natural, gelada...
Sem compreender o que se passava, cada vez mais assustado, penso ser aquilo um pesadelo, mas ao por-se de pé de novo, tropeçou num dos tapetes do seu quarto e caiu dolorosamente sobre a cadeira onde todas as noites colocava a roupa, cuidadosamente dobrada, que havia escolhido para vestir no dia seguinte. Não isto não era um pesadelo... a dor era bem real...
Encolheu-se num canto a chorar. Nem tanto pela dor física, mas pelo seu infortúnio cego, surdo e mudo... e lentamente desapareceu da existência...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Silêncio...

Foge-me o silêncio,
foge-me a calma e a paz
por mais que procure ó Sossego
atordoado pelo ruído impiedoso
de ouvidos doridos, cansados,
pelos sons que me ferem o Ser

Todo o dia te procuro,
e tempo nocturno, escuro,
em que te e me encontro
torna-se demasiado precioso
para ao sono sucumbir...

sábado, 17 de maio de 2008

Egoísmo?

À primeira vista parece que existe um alto grau de egoísmo inerente ao ser humano, mas penso que é um egoísmo aparente.
Trata-se antes de uma crise de valores associada a um querer "já" e a uma incapacidade de ver mais além. Esta situação repete-se no quotidiano, na política, no mundo dos negócios, um pouco por toda a existência humana.
Se fosse egoísmo puro, as pessoas fariam o que é melhor para elas e não é isso que acontece.
A crise de valores está patente nas atitudes de desresponsabilização e de "amnésia selectiva". O ser humano tende a esquecer os seus próprios erros, e a achar-se não responsável pelo que o rodeia. Delegam cegamente as responsabilidades sempre que podem, e depois criticam as se coisas não vão no caminho que esperariam.
O querer "já" sem ver o mais além é obvio na nossa sociedade. Os apelos ao consumo, as compras exageradas a crédito são exemplos disso, mas são-no também as políticas de baixos ordenados, as loucuras com o défice, a subida do preço dos combustíveis, entre outras. Como pode uma economia seguir em frente quando a grande maioria das pessoas têm ordenados baixos? Quanto mais dinheiro as pessoas têm mais dinheiro circula, e isso é o verdadeiro motor de uma economia. Dinheiro parado nas mão de meia dúzia estagna e cheira a mofo.
Parece que há uma incapacidade relativamente generalizada de sentir empatia, de pensar "e se fosse eu?".
Sinceramente não sei se estas situações que observo são novas ou se estão presentes desde os primórdios da sociedade. Mas algumas cartas encontradas de cidadãos comuns do Antigo Egipto e posteriormente do Império Romano, indicam que têm pelo menos milénios...
Será que algum dia vamos aprender a viver uns com os outros e não uns sobre os outros ou uns contra os outros?
Este globo azul que habitamos tem tanto para nós, que necessidade há de fomes e guerras? que necessidade há de exploração de outros seres humanos? Este planeta chega para todos nós...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Sociedade e Cultura

Quantos de nós procuram exteriormente a si motivos para nos erguer-mos da cama todas as manhãs, para sorrirmos e dar algum sentido à existência...
Na minha opinião isto é um problema cultural da nossa sociedade.
São nos encutidos desde a nascença valores que a isso levam. Modelos de sucesso, modelos de "felicidade".
Procuramos num amor, num emprego, num clube de futebol a realização pessoal. Essa estará sempre dentro do próprio e nunca fora deste...
A pouca valorização dos empregos "menos nobres" aos olhos da maioria é dramática. Isso conduz a que quem pode suportar financeiramente um curso superior o faça, porque (especialmente neste nosso Portugal) quem não tem um canudo está praticamente condenado a empregos subalternos.
Acontecem situações caricatas no mundo de trabalho onde "engenheiros" e "doutores" incapazes ou sem vontade de tentar compreender e fazer, delegam a subalternos as tarefas, ficando com os louros, aumentando ainda mais a exploração dos que hierarquicamente se encontram abaixo deles... Esta situação é ainda mais agravada pela mentalidade atrasada de grande parte das entidades patronais, que tendem a valorizar mais quem diz ou parece que faz em deterimento de quem realmente faz. Quem faz não tem por habito "gabar-se" de fazer... Já diz o velho ditado em relação a quem diz que faz muito... "são mais as vozes que as nozes"...
Tudo isto é a nossa cultura. Tudo isto nos impregna desde a nascença e muitas destas coisas nem questionamos sequer. "A vida é assim... sempre foi..."
Mas a cultura é feita por nós seres humanos, e quanto menos tolerarmos estes abusos, menos eles se tornaram possíveis. A sociedade civil tem nas suas mãos um poder imenso do qual não se apercebe também por motivos culturais. Existe normalmente uma noção de que nada se pode fazer para mudar estas características da vida humana. Mas isso é mais um ilusão criada para resistir as mudanças.
A dignidade e realização pessoal enquanto seres humanos é algo a que todos temos direito!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Certezas incertas...

Vejo nos olhos dos outros certezas que não possuo.
Não consigo saber ao certo o que necessito, o que quero nem o que fazer. No entanto nos olhares alheios estas são certezas. Para a maioria os caminhos são claros, óbvios...
Em mim as dúvidas sobressaiem, entendo que do mundo sei pouco, apesar de todas as minhas vivências. Entendo que não consigo prever o futuro. Não sei o que será melhor para mim ou para os outros, pelo menos não com certezas...
Perturbam-me as certezas alheias. Perturbam-me e pronto!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Insónia

Estava deitado na cama, pronto para fechar os olhos e enfrentar mais uma noite sem sonhos. Queria dormir não pelo sono ou cansaço mas pelo imperativo social e económico de picar o ponto na manhã seguinte...
Os pensamentos corriam apressados como seres anónimos em hora de ponta e o sono tardava. Lá fora o ruído de carros ao longe e o som repetitivo e mecânico de uma fábrica perturbavam um sossego que era apenas aparente...
A cama tornava-se a cada segundo, a cada ruído, a cada inspiração mais incómoda. E a quase certeza da sonolência, sacrifício diario, no dia seguinte.
Por entre o anonimato cruel de seus pensamentos surgiam memórias e desesperos. Alguns conhecidos, outros ainda por conhecer.
Apesar do cansaço causado pela sucessão interminável de noites como essa, a sua mente resistia ao sono e os pensamentos continuavam a correr...
Por fim cansado de estar cansado ergueu-se o mais silenciosamente possível da cama que sentia quente demais. Imediatamente apercebeu-se do grau elevado de seu cansaço, muito para além do que antevira. Após alguns minutos sentado na poltrona o peso da cabeça e das pálpebras era maior que o do mundo. Voltou para a cama., agora a tremer de frio, mas com a certeza que em pouco tempo sentiria de novo calor demais independentemente dos cobertores que retirasse de cima de seu corpo.
As horas passavam e os pensamentos corriam... e a manhã não esperaria pelo seu descanço. Chegaria independentemente de estar preparado para mais um dia, para mais uma luta contra o cansaço...
Os pássaros começavam a cantar e a manhã mais uma vez chegaria dominadora, sufocante, causadora de angustias dores e desesperos...

Verdade ou consequência...

Vivemos num mundo de aparências... E desenganem-se os que pensam que isto é coisa recente.
Talvez as aparências existam desde os primórdios do que entendemos como sociedade. Talvez esta sociedade da informação o mostre de forma mais evidente. São quase sempre as aparências que fazem os lideres e não os méritos. Há algumas (raras) excepções. A política actual é um reflexo desta realidade. Os cargos de chefia no mundo empresarial também.
No fundo muitos são os que de uma forma mais profunda ou superficial têm a noção desta característica das sociedades humanas. Mas poucos os que se rebelam ou manifestam contra esta tendência aparentemente natural, e os que os fazem são imediatamente rotulados de "contra sistema".
Quanto mais honesto um ser humano é com os seus congéneres mais difícil se torna o seu relacionamento com os mesmos. No fundo talvez todos gostemos um pouco de ser enganados :)
Gostamos de ser enganados pelos nossos "chefes", pelos lideres políticos, pelas autoridades, etc...
Ao que parece a arte de bem enganar está directamente ligada ao sucesso na vida, pelo menos ao que de forma geral a sociedade reconhece como sucesso. Não posso considerar uma vida de sucesso uma vida feita de enganos e ilusões. Em algum ponto da vida, quem assim vive, acaba por se aperceber do vazio (o que normalmente dá azo ainda a mais enganos e mais fingimentos, muito provavelmente perante o próprio). É que ninguém quer admitir que é vazio... ninguém quer admitir que é falso...