quarta-feira, 28 de maio de 2008

(sem título)

Troveja lá fora, fora de mim
E sinto o ribombar no meu corpo…
Soltam-se em mim dores,
e das nuvens enraivecidas fúrias…
Nuvens que escondem sentimentos

Nevoeiro humano, aquela miragem
que esconde a pessoa, o ser.
A máscara que teima em ficar
Em rosto humano que já sem saber o que é,
Esconde, ilude e faz crer…

Quando se crê que mudou,
Mudou apenas a pintura...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Quem

Quem sou eu?!, pergunto ao vento
num soletrado lento e errante,
entre gritos e risos desaforados
de meus demónios oscilantes.

Nada... nada...
Areia nos olhos... lágrimas a fugirem
entre palpebras semi-cerradas...

E ruge ruge o vento em meus ouvidos,
teimando em não fazer sentido.
E teimando eu também pergunto...
Quem sou eu?! Quem sou eu?!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O luxo de ter um automóvel próprio...

Os nossos políticos querem convencer-nos a usar os transportes públicos, sendo vulgar ouvirmos dizer que ter um carro é luxo...
Se analisarmos com cuidado estas afirmações torna-se obvio que se devem referir a Lisboa e Porto. Qualquer cidadão português residente num qualquer outro ponto do país só pode rir (ou chorar) perante tais afirmações.
Moro numa cidade (Aveiro) em que os transportes públicos são deficientes. Circulam autocarros de hora a hora, o acesso a alguns pontos do distrito é feito em automotoras sedentas de gasóleo (e todos sabemos que está caro) largando atrás de si uma nuvem de fumo negro. Circulam muitas vezes vazias e a velocidades baixas. O preço por viagem dos autocarros assemelha-se ao gasto com a gasolina no transporte privado (no caso de apenas viajar nele o próprio condutor, porque se forem mais passageiros fica mais económico mesmo contando com o parqueamento), mas com horários no mínimo inconvenientes.
Se pretendermos deslocar-nos a uma cidade próxima por exemplo Coimbra, de novo os comboios são de hora em hora. O custo no mínimo (indo de comboio regional) é de 4,90€. Um automóvel normal, faz a mesma viagem com 10€ de combustível, na pior das hipóteses. Sendo assim desde que nele viagem duas ou mais pessoas já compensa. O tempo da viagem circulando por estrada nacional para evitar o custo da portagem é equivalente e no caso de mais de duas pessoas fica mais económico.
Nesta óptica o luxo são os transportes públicos!
Quanto ao preço dos combustíveis, até me causa arrepios... principalmente sabendo que o preço do petróleo é indexado ao dolar que está cada vez mais baixo em relação ao euro... 110 dólares são hoje menos (em euros) que os 70 ou 80 de à uns anos. No entanto os combustíveis não param de subir... Terá algo a ver com a liberalização do preço dos mesmo que aconteceu no nosso país à uns anos com o argumento de que isso faria baixar esse mesmo preço?

Começo a pensar que o verdadeiro luxo é ser português!

Mas não se preocupem! Os nossos dirigentes continuam optimistas! (eu é que não...)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Cego, surdo e mudo...

Acordou com um raio de luz que escapava por entre os buracos do estore que não estava totalmente fechado a incidir-lhe no rosto.
Algo não estava bem... o silêncio era demasiado, era perturbador...
Levantou-se e dirigiu-se como de costume à casa de banho. Meio ensonado pegou na escova dos dentes tão familiar. Era normalmente o primeiro objecto em que pegava se não contasse com o botão que silenciava o despertador. Nesse momento ocorreu-lhe que não tinha acordado com o despertador, e pensou que estaria atrasado. Colocou o dentífrico como de costume da direita para a esquerda, suavemente, e voltou a colocar a tampa no tubo.
No instante em que aproximou a escova da boca, reparou que não a podia abrir. Em pânico tentou abrir de novo a boca, e apercebeu-se que seus lábios não existiam. Esfregou bem os olhos, para se assegurar de que não era uma alucinação... Não havia qualquer orifício nessa zona apesar de conseguir ver o maxilar a mexer. Era como se seus lábios tivessem sido soldados na perfeição um ao outro. Não havia sequer sinal que tivessem alguma vez existido, nem sequer uma leve marca ou cicatriz. Como era possível tal coisa?!
Ao observar melhor, reparou que também as suas orelhas tinham desaparecido. Procurou, procurou, e também não havia sinal de algum dia terem existido. O lugar onde antes tinham estado era agora perfeitamente liso, sem qualquer orifício por onde o som pudesse entrar. Um acesso terrível de pânico tomou conta dele... tentou acalmar-se, de início sem qualquer sucesso...
Voltou para o quarto, sentando-se do lado esquerdo da sua cama, observando os raios de luz que entravam pelo estore, agora com um ângulo diferente. O silencio continuava esmagador. Notou o quarto mais escuro, o que era estranho... Lentamente começou a aperceber-se que a escuridão começava a tomar conta dele, a envolve-lo friamente e sem piedade. Em poucos minutos deixou de ver o que quer que fosse além de uma escuridão pouco natural, gelada...
Sem compreender o que se passava, cada vez mais assustado, penso ser aquilo um pesadelo, mas ao por-se de pé de novo, tropeçou num dos tapetes do seu quarto e caiu dolorosamente sobre a cadeira onde todas as noites colocava a roupa, cuidadosamente dobrada, que havia escolhido para vestir no dia seguinte. Não isto não era um pesadelo... a dor era bem real...
Encolheu-se num canto a chorar. Nem tanto pela dor física, mas pelo seu infortúnio cego, surdo e mudo... e lentamente desapareceu da existência...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Silêncio...

Foge-me o silêncio,
foge-me a calma e a paz
por mais que procure ó Sossego
atordoado pelo ruído impiedoso
de ouvidos doridos, cansados,
pelos sons que me ferem o Ser

Todo o dia te procuro,
e tempo nocturno, escuro,
em que te e me encontro
torna-se demasiado precioso
para ao sono sucumbir...

sábado, 17 de maio de 2008

Egoísmo?

À primeira vista parece que existe um alto grau de egoísmo inerente ao ser humano, mas penso que é um egoísmo aparente.
Trata-se antes de uma crise de valores associada a um querer "já" e a uma incapacidade de ver mais além. Esta situação repete-se no quotidiano, na política, no mundo dos negócios, um pouco por toda a existência humana.
Se fosse egoísmo puro, as pessoas fariam o que é melhor para elas e não é isso que acontece.
A crise de valores está patente nas atitudes de desresponsabilização e de "amnésia selectiva". O ser humano tende a esquecer os seus próprios erros, e a achar-se não responsável pelo que o rodeia. Delegam cegamente as responsabilidades sempre que podem, e depois criticam as se coisas não vão no caminho que esperariam.
O querer "já" sem ver o mais além é obvio na nossa sociedade. Os apelos ao consumo, as compras exageradas a crédito são exemplos disso, mas são-no também as políticas de baixos ordenados, as loucuras com o défice, a subida do preço dos combustíveis, entre outras. Como pode uma economia seguir em frente quando a grande maioria das pessoas têm ordenados baixos? Quanto mais dinheiro as pessoas têm mais dinheiro circula, e isso é o verdadeiro motor de uma economia. Dinheiro parado nas mão de meia dúzia estagna e cheira a mofo.
Parece que há uma incapacidade relativamente generalizada de sentir empatia, de pensar "e se fosse eu?".
Sinceramente não sei se estas situações que observo são novas ou se estão presentes desde os primórdios da sociedade. Mas algumas cartas encontradas de cidadãos comuns do Antigo Egipto e posteriormente do Império Romano, indicam que têm pelo menos milénios...
Será que algum dia vamos aprender a viver uns com os outros e não uns sobre os outros ou uns contra os outros?
Este globo azul que habitamos tem tanto para nós, que necessidade há de fomes e guerras? que necessidade há de exploração de outros seres humanos? Este planeta chega para todos nós...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Sociedade e Cultura

Quantos de nós procuram exteriormente a si motivos para nos erguer-mos da cama todas as manhãs, para sorrirmos e dar algum sentido à existência...
Na minha opinião isto é um problema cultural da nossa sociedade.
São nos encutidos desde a nascença valores que a isso levam. Modelos de sucesso, modelos de "felicidade".
Procuramos num amor, num emprego, num clube de futebol a realização pessoal. Essa estará sempre dentro do próprio e nunca fora deste...
A pouca valorização dos empregos "menos nobres" aos olhos da maioria é dramática. Isso conduz a que quem pode suportar financeiramente um curso superior o faça, porque (especialmente neste nosso Portugal) quem não tem um canudo está praticamente condenado a empregos subalternos.
Acontecem situações caricatas no mundo de trabalho onde "engenheiros" e "doutores" incapazes ou sem vontade de tentar compreender e fazer, delegam a subalternos as tarefas, ficando com os louros, aumentando ainda mais a exploração dos que hierarquicamente se encontram abaixo deles... Esta situação é ainda mais agravada pela mentalidade atrasada de grande parte das entidades patronais, que tendem a valorizar mais quem diz ou parece que faz em deterimento de quem realmente faz. Quem faz não tem por habito "gabar-se" de fazer... Já diz o velho ditado em relação a quem diz que faz muito... "são mais as vozes que as nozes"...
Tudo isto é a nossa cultura. Tudo isto nos impregna desde a nascença e muitas destas coisas nem questionamos sequer. "A vida é assim... sempre foi..."
Mas a cultura é feita por nós seres humanos, e quanto menos tolerarmos estes abusos, menos eles se tornaram possíveis. A sociedade civil tem nas suas mãos um poder imenso do qual não se apercebe também por motivos culturais. Existe normalmente uma noção de que nada se pode fazer para mudar estas características da vida humana. Mas isso é mais um ilusão criada para resistir as mudanças.
A dignidade e realização pessoal enquanto seres humanos é algo a que todos temos direito!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Certezas incertas...

Vejo nos olhos dos outros certezas que não possuo.
Não consigo saber ao certo o que necessito, o que quero nem o que fazer. No entanto nos olhares alheios estas são certezas. Para a maioria os caminhos são claros, óbvios...
Em mim as dúvidas sobressaiem, entendo que do mundo sei pouco, apesar de todas as minhas vivências. Entendo que não consigo prever o futuro. Não sei o que será melhor para mim ou para os outros, pelo menos não com certezas...
Perturbam-me as certezas alheias. Perturbam-me e pronto!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Insónia

Estava deitado na cama, pronto para fechar os olhos e enfrentar mais uma noite sem sonhos. Queria dormir não pelo sono ou cansaço mas pelo imperativo social e económico de picar o ponto na manhã seguinte...
Os pensamentos corriam apressados como seres anónimos em hora de ponta e o sono tardava. Lá fora o ruído de carros ao longe e o som repetitivo e mecânico de uma fábrica perturbavam um sossego que era apenas aparente...
A cama tornava-se a cada segundo, a cada ruído, a cada inspiração mais incómoda. E a quase certeza da sonolência, sacrifício diario, no dia seguinte.
Por entre o anonimato cruel de seus pensamentos surgiam memórias e desesperos. Alguns conhecidos, outros ainda por conhecer.
Apesar do cansaço causado pela sucessão interminável de noites como essa, a sua mente resistia ao sono e os pensamentos continuavam a correr...
Por fim cansado de estar cansado ergueu-se o mais silenciosamente possível da cama que sentia quente demais. Imediatamente apercebeu-se do grau elevado de seu cansaço, muito para além do que antevira. Após alguns minutos sentado na poltrona o peso da cabeça e das pálpebras era maior que o do mundo. Voltou para a cama., agora a tremer de frio, mas com a certeza que em pouco tempo sentiria de novo calor demais independentemente dos cobertores que retirasse de cima de seu corpo.
As horas passavam e os pensamentos corriam... e a manhã não esperaria pelo seu descanço. Chegaria independentemente de estar preparado para mais um dia, para mais uma luta contra o cansaço...
Os pássaros começavam a cantar e a manhã mais uma vez chegaria dominadora, sufocante, causadora de angustias dores e desesperos...

Verdade ou consequência...

Vivemos num mundo de aparências... E desenganem-se os que pensam que isto é coisa recente.
Talvez as aparências existam desde os primórdios do que entendemos como sociedade. Talvez esta sociedade da informação o mostre de forma mais evidente. São quase sempre as aparências que fazem os lideres e não os méritos. Há algumas (raras) excepções. A política actual é um reflexo desta realidade. Os cargos de chefia no mundo empresarial também.
No fundo muitos são os que de uma forma mais profunda ou superficial têm a noção desta característica das sociedades humanas. Mas poucos os que se rebelam ou manifestam contra esta tendência aparentemente natural, e os que os fazem são imediatamente rotulados de "contra sistema".
Quanto mais honesto um ser humano é com os seus congéneres mais difícil se torna o seu relacionamento com os mesmos. No fundo talvez todos gostemos um pouco de ser enganados :)
Gostamos de ser enganados pelos nossos "chefes", pelos lideres políticos, pelas autoridades, etc...
Ao que parece a arte de bem enganar está directamente ligada ao sucesso na vida, pelo menos ao que de forma geral a sociedade reconhece como sucesso. Não posso considerar uma vida de sucesso uma vida feita de enganos e ilusões. Em algum ponto da vida, quem assim vive, acaba por se aperceber do vazio (o que normalmente dá azo ainda a mais enganos e mais fingimentos, muito provavelmente perante o próprio). É que ninguém quer admitir que é vazio... ninguém quer admitir que é falso...